Dentro de uma sala de N.A. / A.A. alguém descobriu uma coisa que Deus
não pode fazer, é coisa de adicto, mas é verdade: Mudar o nosso passado.
Será que eu posso trabalhar em cima disso agora? Esse passado não vai ser
mudado, ele vai continuar existindo. As pessoas vão continuar cobrando
uma coisa que eu não fiz no passado, que eu vou ter que ouvir agora: porque
eu não fiz.
A manifestação da doença é sempre ativa, uma doença progressiva pode-se
deter o uso, mas a doença não se detém, ela continua. Não existe um passe
de mágica..., que diz assim: olha você hoje está curado, você não precisa
mais vir aqui, pode ir embora. Não existe isso! O que existe dentro desse
processo é justamente a aceitação que é o primeiro passo: Admiti que perdi
o domínio sobre minha vida, aceitar o meu passado, para isso eu preciso em
continuar essa recuperação, eu preciso-me auto-afirmar.
Auto-afirmação. Dentro dessa auto-afirmação muitos de nós se mantiveram no
uso... ... : eu sou adicto mesmo, eu sou alcoólatra mesmo, tenho que beber
se não eu morro, eu vou morrer mesmo então eu vou continuar usando. É uma
forma de auto-afirmação. Falsa, mas é. Porque que agora eu não posso voltar
essa auto-afirmação para algo positivo? Eu posso! Começar a me identificar
com coisas positivas que aconteceram na minha vida, e estar lapidando isso,
estar melhorando isso! Melhorar o meu relacionamento comigo, começar a me
olhar no espelho, chegar à frente do espelho e dizer: eu te amo! Eu te adoro!
Ah, vão chamar-me de louco..., mas já não chamaram tantas vezes! Porque agora
que estou amando-me, estou mexendo com a minha auto-estima, eu vou ficar
preocupado.
Eu tenho que realmente buscar alguma coisa que está dentro de mim, à recuperação
inicialmente está dentro de mim, o que eu posso estar conseguindo e melhorar este
relacionamento que eu tenho comigo através do exemplo das pessoas, e usar uma
outra frase que eu ouvi dentro de N.A.: o inteligente aprende com o exemplo dos
outros. Por que nós temos que aprender só com o nosso próprio exemplo, dar nossas
próprias cabeçadas? Por quê? Será que nós paramos no tempo e no espaço? Não!
Essa nossa afirmação vem de encontro ao reconhecimento das pessoas a quem nós
prejudicamos. Ter claro para nós o nome das pessoas e o que nós fizemos a elas.
Essa é uma parte dos passos difícil de estar se fazendo porque o filme do passado
tem que voltar a ser assistido, nós temos que voltar o nosso filminho aqui e lembrar
uma agressão que eu provoquei na minha família, uma perda que eu provoquei. É difícil
para nós? É. Mas como é que eu posso saber se uma roupa está totalmente limpa? É
verificando parte por parte dessa peça, para ver se não tem sujeira. A mesma coisa
dentro de nós. Não adianta estar limpo de drogas/álcool se eu não estou limpo no meu
interior no meu procedimento, no meu comportamento. Continuo naquela história: Faça o
que eu mando, mais não faça o que eu faço: chutando cachorro, mordendo corrente,
julgando as pessoas, criticando companheiros, se colocando no lugar de irmão mais velho
de Deus, se negando muitas vezes a proporcionar uma ajuda as pessoas. Na época da ativa
nunca o dependente se preocupou em si próprio, consigo mesmo, alguém pedia ajuda estávamos
sempre prontos para ajudar... A solidariedade era imensa... Porque que agora em recuperação
eu não também usar essa imensidão de solidariedade!
A mesma coisa acontece com o familiar. O familiar, para entrar na sala de NARANON /ALANON,
ele primeiro olha de um lado, olha do outro, ninguém me viu..., vou entrar! Entra e fecha
a porta. Com vergonha de receber ajuda, vergonha de oferecer ajuda.
Acho importante nós voltamos um pouquinho e resgatarmos nossa identidade. Quem realmente
sou eu? Sou mãe de um adicto? Sou esposa de alcoólatra? Sou um alcoólatra? Sou um adicto?
Sou filho de um adicto / de um alcoólatra? Quem realmente sou eu? Eu só vou saber lidar
comigo se eu souber quem sou eu. Caso contrário eu não vou ter sucesso nessa nova empreitada,
se eu continuar fugindo de mim, eu vou ser tão solitário que até minha sombra vai ficar
escondida de mim, até a sombra vai se mandar de mim.
Se eu começo escolher o tipo de ajuda que eu tenho para receber eu vou ficar sozinho novamente,
vou partir para o isolamento, vou partir para a onipotência, vou viver o papel de juiz e deixar
de lado esses papéis que eu vivi até hoje - seja dependente ou seja familiar - papel de repressor,
papel de delegado / juiz, papel de enfermeiro, papel de babá. Eu preciso começar a viver o meu
próprio papel! Que papel eu estou vivendo na minha família? Se hoje eu tivesse que montar a minha
família como ela seria? De que forma que eu posso hoje estar percebendo o meu papel dentro da família?
O Deus que cada um tem que procurar é uma obrigação de cada um. Nós temos que encontrar um Deus.
Não adianta querer cair fora... ... Nós temos que encontrar. Porque se eu tenho um problema hidráulico
em casa, eu não vou chamar o advogado - vou chamar o encanador e vou dizer: olha estou entregando o
problema para você. Se eu tenho um problema de construção eu vou entregar para a construtora e dizer
olha está aqui entregue o problema da construção. Cada um tem o seu papel dentro da sociedade, agora
se eu entrego a minha vida a um poder superior como descrito no terceiro passo, o que acontece? Eu estou
deixando de viver o papel de Deus, isso inicialmente na teoria, porque muitas pessoas dizem: Eu entreguei
para Deus. Mas chega um momento em que falam: Deus devolve-me aqui que eu vou fazer minhas palhaçadas
novamente e depois eu te devolvo.
Que papel que eu estou vivendo na minha família. Dentro desse processo da auto-afirmação entra o lado
da escola, da aprendizagem. Alguns dizem: Ah, eu não tenho mais idade para isso. Mentira. O que eu não
quero é sair fora de um comodismo, que muitas vezes a abstinência do meu ente querido trouxe. Se ele
está em abstinência eu estou no céu. É a co-dependência: se ele está bem eu estou bem, mas se ele está
mau eu estou mau. Esse processo, nós temos que começar a identificar. Hoje que tipo de vida eu estou tendo?
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