domingo, 19 de maio de 2013



"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui 
para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do 
que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As 
primeiras ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, 
rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar 
em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos 
tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos 
e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos 
inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho 
tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade 
cronológica, são imaturas. Detesto fazer acareação de desafetos que 
brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos. Meu tempo tornou-se 
escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, que 
sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se 
considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. Quero 
caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. 
O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!” 

Mário de Andrade (1893-1945)

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